Opinião: Nascer, (renascer), viver e no Santos morrer
O jogo contra o Coritiba acaba de decretar matematicamente nosso acesso.
Subimos, porém, em espírito, no sábado passado, contra o Vila Nova. Todo santista sabia que era o jogo mais importante da melancólica campanha do Santos na Série B.
Caso você não consiga entender essa melancolia e esteja se perguntando qual é a razão desse sentimento, se estamos em primeiro lugar na tabela, esse texto não é para você. Você jamais vai entender do que é formado o Santos Futebol Clube.
Praticamente não dormi de sexta para sábado. Confesso a vocês que não consegui comemorar um gol sequer nessa série B. Mas, às vezes, é importante viver o luto e abraçar todas as sensações que ele carrega. Então, vesti minha camisa da sorte, aquela azul, da alegria, dos sorrisos, a de 2012, e desci a serra com o mesmo ritual que faria para uma final. Uma hora e trinta e cinco minutos só ouvindo intérpretes santistas no som do carro, de Charlie Brown Jr. a Racionais.
Claramente não era um dia normal. Dava para ver a tensão em cada rosto. Mais do que isso, dava para ver nos olhos de cada torcedor a vontade de sorrir, mas durante esse ano nos acostumamos a não sorrir.
Sentei-me na mesma posição do fatídico 6/12/2023, certo de que era a hora de acordar desse pesadelo.
Corredor de fogo, muita fumaça, fogos, barulho.
A Vila Belmiro estava de novo vivendo uma final. Longe do que imaginávamos, longe do que esse estádio e a história dele merecem, mas essa era a final que tínhamos para jogar.
O jogo começou como todos os outros 34: ruim.
Aos 10 minutos, pontualmente, a torcida do Santos faz uma homenagem ao maior jogador de todos os tempos: sua majestade, o Rei Pelé. Olhei para o telão e pensei: desculpa, Rei, mas será que você pode dar uma força? É vergonhoso ter que pedir isso, eu sei, mas nesse momento é o que todos os seus súditos precisam.
6/11/2023. Depois de um escanteio para o Santos, a bola sobra fora da área. Basso chuta rasteiro, bate e rebate, a bola afastada, o time desmontado, gol do Fortaleza. Falha do zagueiro, gol que decretou, de fato, o momento mais triste da nossa história. Em milésimos de segundo, esse instante passou pela minha cabeça, nem consegui ver a comemoração do gol contra o Vila Nova, só tive a certeza de que eu estava livre da maldição, o Basso estava livre, o Santos estava livre. Não perderíamos mais, obrigado REI.
A partir dali, foram só lágrimas. Um amigo, desses que você faz ali na hora do jogo, que você abraça sem saber quem é, me perguntou se eu queria água, se eu ia conseguir ver a partida até o final. Assisti ao restante do jogo sentado, olhando cada rosto que podia, esperando o apito final, para ver enfim o torcedor santista, ainda que timidamente, sorrir.
Ainda dói lembrar do dia 6/11, dos carros pegando fogo, das bombas de fumaça, daquele cenário apocalíptico e do choro de dor e de raiva. Tive a certeza de que o time mais mágico do mundo tinha perdido a capacidade de fazer magia.
Um ano de luto. A ferida ainda não cicatrizou e talvez nunca irá cicatrizar.
Temos muitas coisas para mudar para o ano que vem, muitas. Mas na noite de 2/11/2024 renascemos mais uma vez. A camisa mais pesada do mundo renasceu, o futebol renasceu.
A mágica vai voltar...
Nascer, (Renascer), Viver, e no Santos morrer.
→ Quer receber notícias, informações e muito mais sobre o Santos? Entre no nosso canal do WhatsApp!
Este artigo foi publicado originalmente no 90min.com/PT-BR como Opinião: Nascer, (renascer), viver e no Santos morrer.
Créditos dados a