Cerca de 7 mil soldados da força Sentinela, especializada no combate antiterrorista, estarão destacados em todo o território "até segunda-feira (16) à noite e até novo aviso", anunciou o Palácio do Eliseu neste sábado, um dia após este ataque ocorrido três dias antes das homenagens previstas ao professor Samuel Paty, em lembrança aos três anos do seu assassinato.
Paty, professor de história e geografia, foi decapitado em 16 de outubro de 2020, pouco depois de deixar a escola onde trabalhava nos subúrbios de Paris, por mostrar caricaturas de Maomé durante aulas sobre liberdade de expressão.
O ataque de Arras também ocorre em uma “atmosfera extremamente tensa” devido ao conflito entre Israel e o Hamas, sublinhou o ministro do Interior, Gérald Darmanin, afirmando que houve uma “ligação, sem dúvida, entre o que aconteceu no Médio Oriente e o ato” do agressor, na sexta-feira (13).
A primeira-ministra Elisabeth Borne “decidiu elevar o patamar Vigipirate ao nível de emergência atentado”, o mais alto deste sistema de segurança, que permite a mobilização excepcional de recursos, indicaram seus serviços na noite de sexta-feira.
O diretor do complexo escolar Gambetta, no centro de Arras, decidiu reabrir o estabelecimento no sábado para alunos e professores “que quiserem [vir à escola]”, de acordo com o presidente Emmanuel Macron, que visitou o local na sexta-feira. O ministro da Educação, Gabriel Attal, que anunciou o envio de mil seguranças às escolas, indicou que iria a Arras neste sábado.
Em toda a França, cerca de 500 estabelecimentos de ensino estarão abertos neste sábado, e um “momento de união e recolhimento” está previsto para segunda-feira, informou Attal. Na noite de sexta-feira, foi feito um minuto de silêncio antes do início da partida de futebol entre Holanda e França.
Pelo menos oito pessoas foram detidas, incluindo o agressor e dois de seus irmãos, revelou uma fonte policial. Um deles já havia sido preso após sua condenação pela sua participação em um plano de atentado, acrescentou a mesma fonte.
O agressor agiu por volta das 11h locais de sexta-feira. A vítima fatal, Dominique Bernard, professor de francês na escola, “interveio primeiro e, sem dúvida, salvou ele mesmo muitas vidas”, sublinhou Emmanuel Macron, apelando aos franceses para que “se mantenham unidos” face à “barbárie do terrorismo islâmico”.
Originário de Arras, pai de três filhas e casado com uma professora, este professor de literatura moderna de 57 anos era “apreciado pelos seus alunos e colegas”, de acordo com testemunhos.
Ele foi morto em frente ao estabelecimento de ensino, onde outro professor também ficou ferido, relatou, na noite de sexta-feira, o promotor antiterrorismo Jean-François Ricard, responsável pela investigação.
O agressor, Mohammed Mogouchkov, fichado na polícia por extremismo e alvo de recente monitorização por parte da Direção-Geral de Segurança Interna (DGSI), circulou primeiro pela escola. Em seguida, ele atacou “um agente técnico que feriu com diversas facadas, e um servente, que também ficou ferido”, acrescentou Ricard.
A direita instou o governo a estabelecer o “estado de emergência”, enquanto a extrema direita apontou “falhas” e apelou à demissão do ministro do Interior.
Mohammed Mogouchkov, com cerca de 20 anos, estava sob vigilância e a DGSI o prendeu no dia anterior ao incidente “para verificar se não ele portava uma arma” e para “verificar seu telefone e, principalmente, as mensagens criptografadas”, indicou Gérald Darmanin.
Nascido, de acordo com a administração francesa, na república russa predominantemente muçulmana da Inguchétia, ele chegou a França em 2008, afirmou uma fonte policial de nacionalidade russa. Seu pai, igualmente “fichado S”, uma designação para extremistas, foi deportado em 2018, revelou Darmanin, mas o agressor não poderia ser legalmente deportado, porque entrou na França antes dos 13 anos.