Por Dan Williams e Nidal al-Mughrabi e Maayan Lubell
JERUSALÉM/GAZA/KFER AZA (Reuters) - Ataques aéreos israelenses atingiram Gaza nesta terça-feira, arrasando distritos inteiros e enchendo necrotérios com palestinos mortos, enquanto Israel se vinga dos ataques do Hamas que desencadearam alguns dos piores episódios de violência em 75 anos de conflito.
Do outro lado do muro que cerca o enclave costeiro, soldados israelenses recolhiam os últimos mortos de Israel quatro dias depois de homens armados do Hamas invadirem cidades, matando centenas de pessoas no ataque militante palestino mais letal da história de Israel.
Militantes do Hamas que mantinham soldados e civis israelenses como reféns ameaçaram executar um prisioneiro por cada moradia atingida em Gaza, mas ao cair da noite de terça-feira não havia indicação de que o tivessem feito.
O ministro da Defesa de Israel disse que suas forças estavam se preparando para uma ofensiva terrestre.
E na fronteira norte de Israel, uma salva de foguetes foi disparada do sul do Líbano em direção a Israel, provocando em resposta bombardeios israelenses, disseram três fontes de segurança. A troca sinalizou a perspectiva de que a violência poderia levar a uma guerra mais ampla.
A embaixada de Israel em Washington informou que o número de mortos nos ataques do fim de semana do Hamas ultrapassou 1.000. As vítimas eram, na sua maioria, civis, baleados em casas, nas ruas ou numa festa ao ar livre. Dezenas de israelenses e alguns estrangeiros foram capturados e levados para Gaza como reféns.
O Ministério da Saúde de Gaza disse que os ataques aéreos retaliatórios de Israel mataram pelo menos 830 pessoas e feriram 4.250 até terça-feira. Os ataques se intensificaram na noite de terça-feira, sacudindo o solo e lançando colunas de fumaça e chamas para o céu.
A Organização das Nações Unidas afirmou que mais de 180 mil habitantes de Gaza ficaram desabrigados, muitos deles amontoados nas ruas ou em escolas.
O ministro da Defesa israelense, Yoav Gallant, falando aos soldados perto da cerca de Gaza, disse: "O Hamas queria uma mudança e conseguirá uma. O que estava em Gaza não existirá mais."
“Começamos a ofensiva pelo ar, depois iremos também pelo solo. Estamos controlando a área desde o Dia 2 e estamos na ofensiva. Isso só vai se intensificar”, completou.
No necrotério do hospital Khan Younis, em Gaza, os corpos foram colocados no chão em macas com nomes escritos na barriga. Os médicos pediram aos parentes que recolhessem os corpos rapidamente porque não havia mais espaço para os mortos.
Um prédio municipal foi atingido enquanto era usado como abrigo de emergência. Os sobreviventes falaram de muitos mortos.
“Nenhum lugar é seguro em Gaza, como você vê, eles atingem todos os lugares”, disse Ala Abu Tair, de 35 anos, que procurou abrigo com sua família depois de fugir de Abassan Al-Kabira, perto da fronteira.
Dois membros do gabinete político do Hamas, Jawad Abu Shammala e Zakaria Abu Maamar, foram mortos em um ataque aéreo em Khan Younis, de acordo com uma autoridade do Hamas.
Foram os primeiros membros importantes do Hamas mortos desde que Israel começou a atacar o enclave. Israel disse que Abu Shammala liderou uma série de operações contra civis israelenses.
O Ministério das Relações Exteriores palestino disse que os ataques israelenses destruíram desde sábado mais de 22.600 unidades residenciais e 10 instalações de saúde e danificaram 48 escolas.
O alto comissário da ONU para os Direitos Humanos, Volker Turk, que criticou os ataques do Hamas, disse que civis foram feridos em ataques israelenses a edifícios, escolas e prédios da ONU.
“O direito humanitário internacional é claro: a obrigação de tomar cuidado constante para poupar a população civil e os bens civis continua aplicável durante os ataques”, disse ele.
TRILHA DE SANGUE
Em Israel, ainda não houve uma contagem oficial completa dos mortos e desaparecidos nos ataques de sábado. Na cidade de Be'eri, no sul do país, onde mais de 100 corpos foram recuperados, voluntários com coletes amarelos e máscaras levaram os mortos para fora das casas em macas.
Um longo e largo rastro de sangue percorria o chão de uma casa onde os corpos foram arrastados por militantes para a rua, vindos de uma cozinha ensanguentada e repleta de móveis virados.
“O que mais quero é acordar deste pesadelo”, disse Elad Hakim, sobrevivente do festival de música ao ar livre onde o Hamas matou 260 pessoas no amanhecer.
Em meio às casas incendiadas do kibutz Kfar Aza, corpos de residentes israelenses e de militantes do Hamas jaziam no chão ao lado de móveis espalhados e carros incendiados. Os soldados israelenses foram de casa em casa para levar os mortos. O cheiro de cadáveres pairava pesadamente no ar.
"Você vê os bebês, as mães, os pais, em seus quartos, em suas salas de proteção e como o terrorista os mata. Não é uma guerra, não é um campo de batalha. É um massacre", disse o major-general israelense Itai Veruv.
"É algo que costumávamos imaginar dos nossos avós nos pogroms na Europa e em outros lugares."