Por Agência O Globo 05/10/23 às 11H07 atualizado em 05/10/23 às 11H17
Uma amiga dos médicos mortos durante ataque em um quiosque na Barra da Tijuca , no começo da madrugada desta quinta-feira (5), disse que a sensação é de medo e a reação de não sair do hotel. Ela disse que o Rio é um destino natural para a realização de congressos e que não é possível imaginar que o simples ato de atravessar a rua num bairro nobre para tomar um coco ou uma caipirinha para relaxar antes de dormir possa terminar numa tragédia.
"O Rio de Janeiro é popular para congresso. A gente vem com uma certa frequência, mas não conhece a dinâmica do lugar e como isso funciona. Não pode sequer imaginar que atravessar a rua num bairro nobre, na Barra da Tijuca, para tomar um coco ou uma caipirinha e depois ir dormir possa ser motivo para isso. Não está entre as coisas que a gente imagina que vai viver. A gente se sente agredido, desrespeitado e triste. É um cenário de tragédia para nossa sociedade. A sensação é de medo e a reação das pessoas de não sair do hotel" relatou a médica, que se identificou como Tânia Mara.
A médica contou que chegou ao hotel por volta da meia-noite e meia desta quarta-feira, pouco antes dos colegas que foram mortos. Eles fizeram o check-in antes dela, que disse que chegou a cruzar com as vítimas enquanto subia para o seu quarto. Segundo seu relato, nesse momento eles estavam descendo, possivelmente para ir até o quiosque onde foram atacados.
"Cheguei no mesmo horário que eles, meia-noite e meia. Fizeram o check-in antes de mim. Quando subi para o quarto, eles estavam descendo. É realmente muito chocante e triste. São pessoas que merecem o nosso maior repeito."
Ela disse que se sente apavorada, pois não acreditava que vir para um evento importante, de abrangência mundial, onde todos estão voltados para o desejo de estudar, crescer e desenvolver a medicina, pudesse resultar num crime. A médica descreveu os colegas como profissionais importantes, assassinados de forma violenta e injustificada.
"Eram colegas ótimos, maravilhosos, bons amigos, bons médicos e foram acometidos pela violência urbana. A gente fica apavorada."
Sobre Marcos de Andrade Corsato, de 63 anos, uma das vítimas, contou que era um médico muito importante e conhecido em São Paulo. Trabalhava no Hospital das Clínicas e era professor universitário. Os outros, segundo disse, eram mais jovens e residentes, todos, conforme disse, "pessoas de trajetória profissional destacada, muitos pacientes e muitos feitos para a medicina"
"Não imagino que eles tenham qualquer conexão (com o crime). Estavam inseridos numa cena trivial de alguém que chega numa cidade e querem tomar uma cerveja e dar uma relaxada antes de dormir. Não tem absolutamente nada que os conecte com esse crime violento."
Além de Corsato também foram vítimas Perseu Ribeiro Almeida, de 33, e Diego Ralf Bonfim, de 35, que é irmão da deputada federal Sâmia Bonfim (PSOL) e chegou a ser socorrido. Outro homem, identificado como Daniel Sonnewend Proença, também foi ferido e levado para o Hospital Lourenço Jorge, também na Barra.